Parentalidade consciente

Nov 18, 2021 | Educadores e escolas

A definição dos vários estilos de parentalidade é ampla e pretende, a partir das diversas perspetivas, enquadrar as atitudes e comportamentos das/os mães/pais face à educação das suas crianças, compreendendo o que é ser criança ao longo de todo o seu crescimento.

De entre os vários investigadores e pedagogos que desenvolveram os seus estudos na área da parentalidade, a psicóloga Baumrind (1967 cit. in Simões, 2011) procurou definir aquilo que que considerou serem os 3 padrões de estilos parentais. O primeiro será o estilo parental autorizado, resumindo-se como sendo aquele em que os pais apresentam um alto nível de controlo e exigência perante os seus filhos, mas que, apesar disso, potenciam a autonomia, envolvem ativamente as crianças na tomada de decisões e são afetuosos e conscientes na comunicação com os filhos. O segundo, a parentalidade positiva, indica o comportamento parental que tem por base a defesa do superior interesse da criança, o respeito pelos seus direitos, que assegura a satisfação das suas principais necessidades e onde são criadas condições para que se desenvolvam de forma holística e positiva. Na parentalidade positiva, os pais procuram desempenhar os seus papeis da melhor forma possível tendo como foco o superior interesse dos seus filhos.

Sobre este tema, também Cruz (2014) deixou contributos, defendendo que não existe uma  única receita para a parentalidade positiva, sendo, no entanto, possível destacar cinco princípios educativos que considera fundamentais na atuação dos pais para com os filhos: a satisfação das necessidades básicas; a satisfação das necessidades de afeto, confiança e segurança; a organização de um ambiente familiar estruturado (como a organização do espaço físico da casa e o espaço temporal das rotinas diárias ou semanais); a organização de um ambiente familiar positivo e estimulante; e ainda o princípio relativo à supervisão e disciplina positiva.

Por último, o terceiro estilo de parentalidade é o da parentalidade consciente, onde há lugar à promoção de relacionamentos positivos com as crianças, tendo por base a sua reflexão e intencionalidade consciente. Deste modo, entende-se que os pais estão conscientes de si próprios, autoanalisam-se e compreendem os seus sentimentos e comportamentos, acreditando que essa é a chave para compreender as suas crianças e criar harmonia nas suas relações.

De forma complementar, Duncan et al. (2009) definiram a parentalidade consciente a partir de cinco principais dimensões:

  1. Escutar com Atenção Plena (prestar atenção e ouvir atentamente os filhos durante as interações);
  2. Consciência emocional de si próprio e da criança (compreender as suas próprias emoções, assim como as dos seus filhos);
  3. Autorregulação na relação parental (capacidade dos pais de consciencializar a sua reatividade ao comportamento dos filhos e implementar calmamente e intencionalmente os comportamentos parentais);
  4. Aceitação, sem julgamento, de si próprio e da criança (consciência dos pais sobre as suas atribuições e expectativas dos filhos e aceitação em relação aos traços, atributos e comportamentos próprios e dos filhos);
  5. Compaixão em relação a si próprio e à criança (genuíno sentimento de preocupação dos pais pelos seus filhos e por eles mesmos como pais).

Por fim, ainda Övén (2016) contribuiu para o enriquecimento do conhecimento sobre o tema, identificando quatro valores que considerou serem a base da parentalidade consciente e da vida em família, sendo estes: o igual valor (o mesmo valor intrínseco entre adultos e crianças, desde os desejos, às opiniões, necessidades e emoções); a integridade, que evidencia que ao sabermos respeitar a nossa integridade e aquilo que nos reflete enquanto pessoa, também saberemos respeitar a integridade do outro; a autenticidade (sem medo de expressar sentimentos ou limites); e a responsabilidade pessoal, que diz respeito ao assumir da responsabilidade pelas nossas escolhas e ações, deixando que os filhos assumam responsabilidades adequadas à faixa etária em que se encontram.

O exercício da parentalidade reveste-se de um processo altamente complexo, em constante mudança, evolução e adaptação, que, quando exercida com consciência e reflexão, promove competências essenciais ao crescimento das crianças e, acima de tudo, respeita-as em toda a sua individualidade.

Mais do que realizar atividades porque sim ou atribuir significados fáceis ao comportamento das crianças, o desafio é parar para pensar no porque é que isto está a acontecer, como posso eu, mãe ou pai, estar a influenciar esta reação e o que posso fazer para a melhorar. As crianças aprendem muito pela observação e os comportamentos e atitudes principalmente.

Referências bibliográficas

Bilbao, A. (2019). O cérebro da criança explicado aos pais. Planeta Manuscrito, 4ºEd
Cruz, O. (2014). Que parentalidade? A tutela civil do superior interesse da criança. Lisboa: Centro de Estudos Judiciários. Disponível em: http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/familia/Tutela_Civel_Superior_Interesse_Crianca_TomoIII.pdf
Cruz, V. (2014). Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem da matemática. Análise Psicológica, 32(1), 127-132
Cruz, V. E., Cruz, G. T. D. (2019). O método Montessori e a construção da autonomia da criança na educação infantil. Caderno Intersaberes, 8(15), 1 – 22
Duncan, L. G., Coatsworth, J. D., & Greenberg, M. T. (2009). Pilot study to guage acceptability of a mindfulness-based, family-focused preventive intervention. The Journal of Primary Prevention, 30(5), in press.
Ministério da Educação/Direção Geral de Educação (2016). Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Disponível em:  https://www.dge.mec.pt/ocepe/sites/default/files/Orientacoes_Curriculares.pdf
Montessori, M. (2017). A descoberta da criança: pedagogia científica. Campinas, Kírion
Moufarda, C. (2014). A importância e o impacto das rotinas na creche e no jardim de infância.  Instituto Politécnico de Lisboa
Neto, C. (2017). Brincar e ser ativo na escola. Revista Diversidades – Educação e aprendizagem (12) 9-17. Disponível em: https://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/11629/1/Revista%20Diversidades%2051.pdf
Roque, M.T.P. (2021). A importância da(s) rotina(s) na participação e autonomia das crianças em creche e jardim de infância. Relatório de projeto de investigação de Mestrado, Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Setúbal
Santos, C. M. (2010). O dia-a-dia no jardim de infância – importância atribuída pelos educadores de infância aos momentos de rotina. Dissertação de Mestrado, Universidade de Coimbra, Coimbra
Simões, S. (2011). Influência dos estilos educativos parentais na qualidade da vinculação de crianças em idade escolar em diferentes tipos de família. Tese de doutoramento, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/56783/2/Tese%20PhD%20Sonia%20Simoes.pdf