A importância de atividades práticas no quotidiano

Nov 18, 2021 | Educadores e escolas

Nos primeiros anos de vida da criança, a pedagoga Maria Montessori defendia que o ambiente que a envolve deveria estar preparado, de modo a favorecer a escolha entre um conjunto de materiais e atividades que promovem a independência e autonomia, que estimulam a descobrir relações e a concretizar as tarefas da vida diária e prática, como por exemplo: atar os sapatos, dar laços, varrer, lavar e limpar, numa viagem por todos os cinco sentidos (Cruz e Cruz, 2019). As atividades práticas e lúdicas revestem-se de uma grande importância e com um peso determinante no quotidiano do público infantil. Nos primeiros anos de vida, a capacidade do pensamento abstrato das crianças é muito pequena ou até nula, sendo necessário que aprenda por repetição, por revisitar as mesmas regras e dinâmicas e a partir de exemplos muito concretos e de fácil execução.

Nas tarefas diárias que a criança desempenha, é importante manter a consistência e a prática das mesmas rotinas para que se mantenha sempre alerta do que é sua responsabilidade fazer, compreendendo a sucessão dos acontecimentos e desenvolva a sua autonomia e espírito e iniciativa.

Ter uma rotina, com atividades que desenvolve diariamente desde bem cedo, 2 anos, não quer dizer ter as atividades organizadas que a família já desenvolve. É importante que se dividam as atividades dos adultos em atividades mais pequenas, para que as crianças as compreendam e executem autonomamente. Mesmo que não consigam logo de forma perfeita numa primeira vez, deve ser dada a criança autonomia e liberdade para as executar, indo melhorando as mesmas com a repetição. No início, o adulto pode acompanhar a criança no percurso das atividades, mas o desempenho das atividades é realizado pela criança, com o mínimo de intervenção externa. Por exemplo, apresentam-se algumas atividades que podem ser realizadas por intervalo de idade:

2 a 3 anos 4 a 5 anos 6 a 8 anos
Guardar os brinquedos Arrumar a cama Lavar a loiça
Retirar o seu prato da mesa Colocar a roupa na máquina Por e tirar a mesa
Guardar sapatos Guardar roupas Varrer
Guardar a roupa suja no cesto Arrumar alguma loiça Aspirar
Limpar pequenas superfícies Ajudar a pôr a mesa Guardar compras
Colocar guardanapos na mesa Limpar o pó Tirar o lixo de casa
Despir a própria roupa Regar as plantas Ajudar a estender a roupa
Retirar frutas e legumes da fruteira Separar o lixo
Alimentar animais

As atividades de higiene pessoal, acordar, deitar, comer, desde cedo devem também ser estimuladas de forma autónoma, sendo acompanhadas pelo adulto e devendo este ter o mínimo de intervenção possível (sendo certo que tarefas como lavar os dentes, por exemplo, pode exigir mais intervenção, no início, mas deixando sempre que a criança explore e execute por forma a aprender – aqui, por exemplo, podem existir várias estratégias, com recurso ao lúdico, para que a criança vá melhorando a técnica sem que retirar a autonomia).

Neste sentido, existirem atividades que eles podem colocar no tempo certo do relógio, podendo conhecê-las através das imagens e seguir a sua ordem sem que alguém lhes diga será um pilar muito importante no seu desenvolvimento, sendo por isso essencial que cada família/escola escolha as atividades que mais sentido lhe fazem para o desenvolvimento da criança.

Referências bibliográficas

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Cruz, O. (2014). Que parentalidade? A tutela civil do superior interesse da criança. Lisboa: Centro de Estudos Judiciários. Disponível em: http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/familia/Tutela_Civel_Superior_Interesse_Crianca_TomoIII.pdf
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Cruz, V. E., Cruz, G. T. D. (2019). O método Montessori e a construção da autonomia da criança na educação infantil. Caderno Intersaberes, 8(15), 1 – 22
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Moufarda, C. (2014). A importância e o impacto das rotinas na creche e no jardim de infância. Instituto Politécnico de Lisboa
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