A definição dos vários estilos de parentalidade é ampla e pretende, a partir das diversas perspetivas, enquadrar as atitudes e comportamentos das/os mães/pais face à educação das suas crianças, compreendendo o que é ser criança ao longo de todo o seu crescimento.
De entre os vários investigadores e pedagogos que desenvolveram os seus estudos na área da parentalidade, a psicóloga Baumrind (1967 cit. in Simões, 2011) procurou definir aquilo que que considerou serem os 3 padrões de estilos parentais. O primeiro será o estilo parental autorizado, resumindo-se como sendo aquele em que os pais apresentam um alto nível de controlo e exigência perante os seus filhos, mas que, apesar disso, potenciam a autonomia, envolvem ativamente as crianças na tomada de decisões e são afetuosos e conscientes na comunicação com os filhos. O segundo, a parentalidade positiva, indica o comportamento parental que tem por base a defesa do superior interesse da criança, o respeito pelos seus direitos, que assegura a satisfação das suas principais necessidades e onde são criadas condições para que se desenvolvam de forma holística e positiva. Na parentalidade positiva, os pais procuram desempenhar os seus papeis da melhor forma possível tendo como foco o superior interesse dos seus filhos.
Sobre este tema, também Cruz (2014) deixou contributos, defendendo que não existe uma única receita para a parentalidade positiva, sendo, no entanto, possível destacar cinco princípios educativos que considera fundamentais na atuação dos pais para com os filhos: a satisfação das necessidades básicas; a satisfação das necessidades de afeto, confiança e segurança; a organização de um ambiente familiar estruturado (como a organização do espaço físico da casa e o espaço temporal das rotinas diárias ou semanais); a organização de um ambiente familiar positivo e estimulante; e ainda o princípio relativo à supervisão e disciplina positiva.
Por último, o terceiro estilo de parentalidade é o da parentalidade consciente, onde há lugar à promoção de relacionamentos positivos com as crianças, tendo por base a sua reflexão e intencionalidade consciente. Deste modo, entende-se que os pais estão conscientes de si próprios, autoanalisam-se e compreendem os seus sentimentos e comportamentos, acreditando que essa é a chave para compreender as suas crianças e criar harmonia nas suas relações.
De forma complementar, Duncan et al. (2009) definiram a parentalidade consciente a partir de cinco principais dimensões:
- Escutar com Atenção Plena (prestar atenção e ouvir atentamente os filhos durante as interações);
- Consciência emocional de si próprio e da criança (compreender as suas próprias emoções, assim como as dos seus filhos);
- Autorregulação na relação parental (capacidade dos pais de consciencializar a sua reatividade ao comportamento dos filhos e implementar calmamente e intencionalmente os comportamentos parentais);
- Aceitação, sem julgamento, de si próprio e da criança (consciência dos pais sobre as suas atribuições e expectativas dos filhos e aceitação em relação aos traços, atributos e comportamentos próprios e dos filhos);
- Compaixão em relação a si próprio e à criança (genuíno sentimento de preocupação dos pais pelos seus filhos e por eles mesmos como pais).
Por fim, ainda Övén (2016) contribuiu para o enriquecimento do conhecimento sobre o tema, identificando quatro valores que considerou serem a base da parentalidade consciente e da vida em família, sendo estes: o igual valor (o mesmo valor intrínseco entre adultos e crianças, desde os desejos, às opiniões, necessidades e emoções); a integridade, que evidencia que ao sabermos respeitar a nossa integridade e aquilo que nos reflete enquanto pessoa, também saberemos respeitar a integridade do outro; a autenticidade (sem medo de expressar sentimentos ou limites); e a responsabilidade pessoal, que diz respeito ao assumir da responsabilidade pelas nossas escolhas e ações, deixando que os filhos assumam responsabilidades adequadas à faixa etária em que se encontram.
O exercício da parentalidade reveste-se de um processo altamente complexo, em constante mudança, evolução e adaptação, que, quando exercida com consciência e reflexão, promove competências essenciais ao crescimento das crianças e, acima de tudo, respeita-as em toda a sua individualidade.
Mais do que realizar atividades porque sim ou atribuir significados fáceis ao comportamento das crianças, o desafio é parar para pensar no porque é que isto está a acontecer, como posso eu, mãe ou pai, estar a influenciar esta reação e o que posso fazer para a melhorar. As crianças aprendem muito pela observação e os comportamentos e atitudes principalmente.
Referências bibliográficas
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Cruz, V. E., Cruz, G. T. D. (2019). O método Montessori e a construção da autonomia da criança na educação infantil. Caderno Intersaberes, 8(15), 1 – 22
Duncan, L. G., Coatsworth, J. D., & Greenberg, M. T. (2009). Pilot study to guage acceptability of a mindfulness-based, family-focused preventive intervention. The Journal of Primary Prevention, 30(5), in press.
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