Criar e fomentar rotinas com atividades que se repetem no tempo, ao longo do dia e ao longo da semana, nos primeiros anos de vida das crianças desenvolve diversas competências muito importantes para o seu desenvolvimento. Entre elas, a autonomia, a responsabilidade e a organização são as que mais beneficiam do estabelecimento de rotinas que as crianças vão interiorizando e adaptando à sua realidade e dia-a-dia.
Nas últimas décadas a investigação científica nas áreas da pedagogia e da psicologia têm sublinhado a importância das rotinas no desenvolvimento das crianças e na promoção de competências pessoais e sociais que em muito contribuem para o seu crescimento e bem-estar, em harmonia consigo mesmas e com o meio que as rodeia. As rotinas, neste contexto, são uma sequência de acontecimentos que permitem que as crianças os sigam e compreendam, oferecem uma estrutura para o seu dia e, ao apropriar-se destes fenómenos, as crianças serão capazes de, de forma autónoma, seguir os seus interesses, fazer escolhas, tomar decisões conscientes e resolver problemas (Hohmann e Weikart, 2003, cit. por Moufarda, 2014). Adicionalmente, a interiorização da sequência rotineira permite que a criança consiga organizar o seu tempo e as suas atividades de forma independente, desenvolvendo processos autorreguladores e de compreensão da existência de si mesmo (Formosinho, 1996, cit. por Santos, 2010).
Atualmente, são vários os documentos orientadores que refletem a importância das rotinas no desenvolvimento infantil, entre eles, por exemplo, as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE), elaboradas pelo Ministério da Educação (2016), que sublinham que a tomada de consciência das rotinas e dos diferentes momentos que se sucedem durante o dia são importantes para a compreensão das unidades temporais, desenvolvendo alguns conceitos como o antes e depois ou a sequência semanal.
Contudo, é também essencial que exista alguma flexibilidade na rotina estabelecida para que se adapte às necessidades individuais e particulares de cada criança, proporcionando segurança e estabilidade (Folque e Bettencourt, 2018, cit. por Roque, 2021), sendo por isso também importante que as rotinas comecem a ser criadas desde cedo, com cada criança, promovendo um sentimento de confiança (Post e Hohmann, 2003, cit. por Moufarda, 2014).
Definir rotinas é, assim, estimular a suportar a aprendizagem da criança, dando-lhe ferramentas constantes para que se sinta confortável e confiante para se apoderar dos seus compromissos diários e se tornar mais autónoma e independente.
Referências bibliográficas
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